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quinta-feira, 16 de agosto de 2018


A MULHER DOMÉSTICA DA COMUNIDADE DO CAFUCA
Uma opção de Trabalho ou Questão de Sobrevivência?


Cláudio Melo

 1 –ABERTURA

Temas sobre as “mulheres” nos últimos anos passaram a ser estudados pelos diversos campos do saber. A Organização das Nações Unidas decretou o ano de 1975 o Ano Internacional da Mulher. Nestes 42 anos que já se passaram, muitos foram os avanços e direitos conseguidos pelas mulheres em áreas distintas, não só no Brasil como em várias partes do mundo. Mas realizando um recorte de classe percebemos um enorme número de mulheres que estão longe de desfrutarem desses avanços e direitos – as mulheres pobres, negras e sem estudo. De lá para cá, trabalhando no campo ou nos grandes centros, as mulheres pobres continuam sobrecarregadas por suas verdadeiras duplas jornada de trabalho - dentro e fora de casa. Essas mulheres saem do espaço privado próprio para outro espaço privado, teoricamente espaço público, que não lhes pertence, e vão cuidar dos objetos, da casa, dos filhos, do marido de outras mulheres bem-sucedidas. Para elas, a divisão social do trabalho, “trabalho de homem” e “trabalho de mulher” continua em vigor, indiscutivelmente um fato concreto.
O mundo do trabalho doméstico do Brasil conta hoje com pelo menos 6 milhões de empregadas domésticas – no geral 20% das mulheres financeiramente ativas situam-se no mundo do trabalho doméstico.
Desde os anos 1930, essas mulheres lutam para serem reconhecidas como trabalhadoras e terem os mesmo direitos trabalhistas que os outros profissionais. Alguns desses direitos só foram alcançados apenas no governo de Dilma Rousseff, mas por incrível que pareça já correm riscos com as propostas de flexibilização do trabalho do governo de Michel Temer.
Observamos que a qualidade de vida das mulheres domésticas está intimamente ligada a esta relação: casa, família e trabalho. Existe, em nossa sociedade, uma tendência em considerar a mulher como trabalhador de segunda categoria e para as mulheres domésticas tal fato se potencializa, devido primeiro a sua etnia, visto que 5 em cada 7 mulheres são negras. Segundo, levando em consideração os locais de moradia (origem social), a saber: comunidades pobres e favelas. Nesses territórios a participação das mulheres no mundo do trabalho é maior, dada a necessidade da venda da força de trabalho de todos os membros da família para a sua subsistência, inclusive as crianças.
O emprego doméstico atualmente é regido por lei específica, a Lei complementar 150 de 01 de junho de 2015 que estabeleceu os novos direitos e deveres trabalhistas para o emprego doméstico. No entanto, outras leis também podem ser aplicadas em situações que não estejam discriminadas na Lei Complementar 150. Entende-se como empregado doméstico, aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana.
Curiosamente, as vésperas da promulgação da Lei 150 houve uma demissão em massa de empregadas domésticas, acontecendo em seguida um recrutamento de empregadas diaristas, as quais não precisam conforme a lei assinar carteira, sendo assim os patrões não possuem compromissos trabalhistas com essas mulheres. Interessante é que as beneficiadas pela Lei 150, que tem suas carteiras assinadas e gozam dos direitos trabalhistas se consideram superiores às demais. O trabalho regularizado das domésticas passa a ser ideologicamente símbolo de alienação.
Uma grande parcela da população feminina residente nas comunidades e favelas está ligada às atividades domésticas fora de sua própria casa, como podemos constatar por pesquisa desenvolvida pelo DIEESE (2011):


O trabalho doméstico é exercido majoritariamente por mulheres, tanto na sua forma remunerada como não remunerada. Em 2005, realizavam tarefas domésticas 90,6% das mulheres e 51,1% dos homens ocupados, segundo dados do IBGE. Seu tempo se dividia em média, entre 42,9 horas por semana dedicadas ao trabalho remunerado e 9,8 horas semanais ás tarefas domésticas, no caso dos homens. As mulheres ocupadas destinavam 34,8 horas semanais ao trabalho remunerado 25,2 horas por semana ás tarefas domésticas (DIEESE, 2011, p. 7)


A Comunidade do Cafuca, onde desenvolvemos a pesquisa, está localizada em Santa Izabel no município de São Gonçalo – RJ. Em épocas de chuva, algumas áreas dessa comunidade estão sujeitas a enchentes. A comunidade está numa área territorial mista – plana e montanhosa. Pode ser caracterizada por acentuada degradação urbana, elevadas taxas de pobreza e desemprego; por problemas sociais como o crime, alcoolismo, uso de drogas, casos de doenças mentais e elevadas taxas de doenças – dengue, zica - devido as péssimas condições de saneamento e falta de cuidados básicos de higiene e saúde. Existem os códigos sociais que proíbe que os habitantes cometam crimes dentro dos limites da comunidade. A principal ocupação dos moradores, para os homens é o “bico” e para as mulheres é o trabalho doméstico fora de sua própria casa. Outra ocupação é a "catação de sucata” para ser revendida no ferro velho.
Pretendemos com esse estudo conhecer a realidade do trabalho executado pelas mulheres domésticas, nas casas que não são as suas – a casa da patroa. Afinal, esse trabalho é uma opção ou uma questão de sobrevivência?Na verdade, o trabalho doméstico feminino remunerado ainda se encontra em um nível dispare dos outros trabalhos, principalmente por fundamentar-se ainda em uma relação submissa essencialmente patriarcal, em alguns casos análogos a escravidão, onde mulheres devem seguir as convenções femininas e familiares às quais são empregadas.


2 – DISCUSSÃO DO PROBLEMA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DESCRITIVA

2.1  – A PESQUISA

Nossa pesquisa foi desenvolvida a partir da seguinte hipótese: As mulheres são domésticas por que: não têm outras opções de trabalho perto de onde moram; trabalham só para “ajudar” no orçamento familiar; gostam de trabalhar, apesar das duas jornadas de trabalho, e valorizar a contribuição que dão para suas famílias; no trabalho é que conversam, riem, encontram as amigas e se distraem (apesar do desgaste físico)?
Tivemos como objetivos: identificar o perfil das mulheres domésticas da Comunidade do Cafuca; conhecer o processo de trabalho realizado por elas; relacionar este trabalho doméstico assalariado com o trabalho doméstico privado; verificar por que a maioria das mulheres é doméstica.
Utilizamos nesta pesquisa a metodologia do diagnóstico rápido, que basicamente consiste em usar em conjunto procedimentos operacionais rápidos e resultados de pesquisas passadas (quantitativas e qualitativas)com o intuito de se conhecer e compreender rapidamente uma determinada realidade num contexto econômico e social particular, a partir de um pequeno número de sujeitos sem a utilização de grandes amostragens. Utilizamos uma abordagemcrítica-analítica-descritiva do tipo estudo de caso, baseada nos relatos de história de vida de sete mulheres moradoras na Comunidade do Cafuca no Bairro de Santa Isabel no Município de São Gonçalo – RJ. A escolha das mulheres foi feita aleatoriamente.
A história de vida e a história oral foram escolhidas como instrumentos de pesquisa, pois tínhamos interesse em conhecer e estudar a problemática social da mulher doméstica, e como ela se apresentava de maneira viva e concreta na comunidade.
As entrevistas foram realizadas a partir de um roteiro para que pudéssemos analisar os fatos mais relevantes ao estudo. Elaboramos um roteiro de entrevista com perguntas abertas e fechadas para melhor orientação (ver anexo 1). As entrevistas foram pessoais, portanto, eticamente vamos manter a identidade das entrevistadas em sigilo. Não houve recusas para as entrevistas que foram realizadas em dois dias: no primeiro dia entrevistamos quatro mulheres. No dia seguinte entrevistamos mais três. As entrevistas foram feitas na rua. As entrevistadas mostraram boa receptividade e satisfação em contar suas vidas para nós, assim como interesse por nossa pesquisa.
A título de observação percorremos a Comunidade do Cafuca para realizarmos um processo de reconhecimento mais preciso sobre a localidade.


2.2  RESULTADOS DA PESQUISA

Constatamos que os perfis das sete mulheres entrevistadas moradoras da Comunidade do Cafuca em São Gonçalo – RJ são: Todas nasceram em São Gonçalo, porém todas vieram de outras comunidades. Como opção de trabalho as mulheres tem nas casas das patroas, no município de Niterói, onde todas trabalham, empregos domésticos como assalariada mensalista ou diarista.
Entre as entrevistadas, uma estava afastada do trabalho para tratamento médico, devido a um acidente dentro do ônibus público que a transportava de volta do trabalho e outra estava afastada pela idade (73 anos).
Em relação ao estado civil, quatro são casadas e três solteiras. O número total de filhos vivos são 10 e nenhum morto.
Individualmente, o perfil das sete mulheres entrevistadas é o seguinte: A - 22 anos, solteira, 0 filho;B - 30 anos, solteira, 0 filho;C - 30 anos, solteira, 0 filho;D - 40 anos, casada, 3 filhos;E - 45 anos, casada, 1 filho;F - 58 anos, casada, 2 filhos;G - 73 anos, casada, 4 filhos.
Constatamos um nível baixo de escolaridade entre as entrevistadas. Das sete entrevistadas, as 5 que frequentaram a escola até o 5º ano sabem ler e escrever; uma que conseguiu ir até o 9º, além de ler e escrever possui maior lógica no raciocínio e a que não freqüentou a escola somente assina o nome.Segundo seus depoimentos, as mulheres não completaram seus estudos por pertencerem a famílias pobres. Uma delas, que nunca freqüentou a escola, à de 73 anos, disse:


Em meu tempo era só enxada e ajudar minha mãe na casa. Não deu tempo pra estudar. Quando fui a escola pela primeira vez, a professora por algum motivo que não lembro, me bateu com uma palmatória. Então nunca mais voltei a escola. Vivia na roça. A vida era muito difícil. Por causa disso não estudei, aprendi a escrever muito mal meu nome. (MULHER G).


Mesmo assim, as mulheres consideram de grande importância a escola para seus filhos. Para elas é uma maneira de os manterem longe dos subempregos e empregos domésticos, visto que quando crianças, as mulheres trabalharam em empregos domésticos ou em roça. Das sete entrevistadas, três haviam trabalhado na roça com menos de 10 anos.
É uma relação circular, um ciclo que se apresenta a nós, ao analisarmos a questão social do trabalho doméstico. Fica evidente que o trabalho doméstico é uma constante que se perpetua mesmo casadas e com filhos, pois não conseguem mais sair das casas das patroas.Assim, para essas mulheres o trabalho doméstico remunerado realizado no espaço público continua sendo “o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e de proteção integral dos filhos e demais membros independentemente do arranjo familiar ou da forma como vem se estruturando”. (KALOUSTIAN, 1992, p, 11).
Umas foram para casa de família quando crianças porque não “queriam” estudar, outras para ajudar no orçamento doméstico familiar. Reproduzem com os filhos; quando também estes não vão à escola.

2.3 - A DUPLA JORNADA DE TRABALHO

As mulheres possuem uma carga horária de trabalho, mais ou menos, 7/5 horas a mais que os homens por semana, devido à dupla jornada de trabalho, que inclui afazeres domésticos (espaço privado) e trabalho remunerado (espaço público – casa das patroas).
Quando conversamos sobre a acumulação do trabalho decasa com o da casa da patroa, percebemos algum tipo de ajuda dos filhos maiores em relação aos menores. Os maridos ajudam, mas é pouco. As que não têm marido contam com os filhos, uma conta com a mãe que mora perto e outra com a comadre que é vizinha. É realmente muito cansativo. Saem de casa às 6 horas da manhã, e retornam às 19 ou 20 horas. Uma expôs como fica cansada:


Lá pelas 8 horas da noite a gente chega em nossa casa, se não tiver transito, é claro. Arrumo a casa, varro a casa, puxo água da cisterna. A roupa a gente lava no domingo. A menina que tem 9 anos ajuda, agora o rapaz de 19 não quer nada, né. Eu tinha vontade de ficar em casa cuidando do marido, dos filhos. O trabalho doméstico fora de casa é muito desgastante, mas a gente quer ver o dinheiro, e distrai também (...). O marido em casa não ajuda em nada. (MULHER E).


O que leva as mulheres a trabalharem em condições tão desgastantes para elas como mães, esposa e com a própria casa para cuidar. É provável que seja uma forma de se sentirem participantes, reconhecidas como sujeitos, trabalhando numa atividade fora de casa, já que o trabalho em casa “não rende”, ou seja não lhes garantem uma renda.
A partir disso podemos dizer que as mulheres domésticas também fazem parte do grupo de mulheres que vivenciam diariamente e sofrem a tensão permanente para articular o trabalho remunerado no espaço público (casa da patroa) e o reprodutivo no espaço privado (própria casa), porém são elas que mais sofrem a dupla jornada de trabalho. Para piorar, elas apesar da Lei 150 possuem na prática a jornada de trabalho realizada, de 12, 13 horas diárias fora de casa e têm que dar conta das responsabilidades relegadas às mulheres nas suas próprias casas. A partir de uma lógica opressora, as empregadas domésticas garantem o suporte necessário para outras mulheres bem sucedidasassociaremde forma mais fácil trabalho reprodutivo e remunerado, mas elas mesmas não contam com condições de dar conta dessas duas dimensões da vida.


2.4 - A PATROA E A EMPREGADA

Sendo uma constante para as mulheres entrevistadas, depois de adultas e com família, a experiência profissional na casa da “madame”, chegamos a conclusão, através de análise de suas falas, do porquê dá permanência na casa da patroa: Na casa da “madame” podem assinar a carteira (independência financeira). Para nós a “madame” fica sendo a pessoa que explora, paga pouco, é exigente, queàs vezes não dá nem comida, porém as entrevistadas não se sentem exploradas pela “madame”. Segundo uma das mulheres, quando a patroa elogia seu serviço, fica toda orgulhosa.
Tal fato nos remeteu ao início do livro “A Corrosão do Caráter”, no qual, Sennett (1999) argumenta que o capitalismo reconfigurou-se passando a possui uma natureza flexível, contrária a rigidez burocrática, as rotinas exageradas e aos significados do trabalho na vida das pessoas, as quais não sabem os riscos que correm, não sabem se chegarão a algum lugar, e que colocam em dúvida o próprio senso de caráter pessoal. Para Sennett (1999), caráter é (...) o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se preferirmos ... são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem (SENNETT, 1999,p. 10).
Sobre a aposentadoria e a pensão, percebemos não terem uma idéia bem determinada ainda, em termos de futuro. Quando conversamos a respeito do futuro, da velhice, diziam que ou “não sabiam como ia ser”, ou que “agora tinha uma lei nova para as empregadas domésticas e que as coisas iriam melhorar”, mais não a conheciam muito bem.


2. 5 - O SIGNIFICADO DO TRABALHO EM SUAS VIDAS

A importância do trabalho na vida das pessoas, não só como de subsistência, mas, também, como valorização pessoal, leva este grupo de mulheres a prosseguirem em suas lutas. É uma maneira também de se sentirem mais independentes financeiramente dos maridos, apesar do pouco que ganham. Além, de sentirem-se importantes diante de suas vizinhas que não trabalham fora.
Consideram o trabalho, apesar de desgastante fisicamente, “um remédio para os nervos”. A questão da saúde aparece relacionada à “doença dos nervos”. Elas se sentem alegres trabalhando, o que às distraem, visto que segundo elas o trabalho de casa com os próprios filhos faz com que fiquem nervosas. “Não só porque os filhos não podem ficar sem os cuidados de suas mães, mas também porque, como se diz nesses lugares, para as mulheres não há ‘paralisação do trabalho’, [...]”. (DEJOURS, 1992, p. 31-32).
No entanto, outra com uma consciência contrária relacionou o problema “dos nervos” que teve ao seu trabalho, o qual qualificou como “muito desgastante”.
Constatamos, também, que o trabalho pode representar uma forma de lazer. Das 7 mulheres entrevistadas, 2 vão à igreja evangélica aos domingos. Uma terceira freqüenta um centro espírita, às quartas feiras, onde toma passes, reza e aprende a bordar. Outras duas só saem para trabalhar. É quando, segundo elas, “se esquecem de seus problemas”. Nunca saem com os maridos ou com os filhos. Apenas uma disse sair aos sábados para dançar forró, e aos domingos para dançar fank no “baile da favela”.
Tínhamos como hipótese ao elaborarmos o projeto de pesquisa: as mulheres gostam de trabalhar, e no trabalho encontram suas amigas, riem, conversam e se distraem, apesar das condições a que estão sujeitas nas casas das patroas? O trabalho de certa maneira para algumas representa algo importante, pessoal, como mulheres que são? Para outras a importância não está no trabalho em si, mas sim no dinheiro que ganham o que lhes permite não contar apenas com o dinheiro do marido?No entanto, muitas dessas mulheres não percebem o quanto entregam suas vidas para o trabalho. A maioria dessas mulheres acredita que precisam ser gratas por terem um “emprego”, pois é esse que garante atingir seus objetivos, ou seja, comprar seus objetos de consumo, estímulo que faz com que trabalhem cada dia mais sem medir esforços para conquistar estes prêmios.
Se sentem amigas umas das outras. Como moram na mesma comunidade são vizinhas, mas é no trajeto para o trabalho quando mais conversam. Elas consideram esse momento o momento delas, sem marido, sem filhos, sem família. Relatam que quando chegam ao centro de Niterói às 6 horas da manhã, é quando se confraternizam de verdade em uma lanchonete dentro do terminal de ônibus. É neste momento que rola a troca de risadas, conversas, piadas, de contação de casos, e até uma paquera.
Segundo os depoimentos das entrevistadas, atualmente as patroas não estão querendo contratar empregadas domésticas mensalistas para não precisarem assinar carteira. Algumas trabalham como diaristas, ou seja, trabalham dois dias na semana para cada patroa. Dizem conhecer mulheres que não conseguiram mais trabalho de doméstica, nem como diarista. Por causa disso estão trabalhando com “reciclagem”, catando lixo, outras lavam roupa ou costuram para as vizinhas. Elas se sentem superiores e orgulhosas em relação a essas mulheres que não conseguem mais trabalho. Assim falaram:


Eu tenho orgulho, eu não sei por que, eu não sei muito bem o que sinto no meu serviço, mas eu gosto. Eu gosto quando a minha patroa me elogia. Não sei por que, uma coisa se move dentro de mim, e eu gosto. Eu acho muito importante uma mulher ser trabalhadora. A pessoa tem que ser trabalhadora honesta. É só isso que eu penso, tenho, tenho muito orgulho. (MULHER F).


Presumimos que o trabalho doméstico no espaço público também abarca o conjunto de atividades associadas à reprodução da vida, tais como: alimentação, do vestuário, da higiene, do cuidar, etc. Sua especificidade situa-se fora do mercado, isto é, não produz mais-valia. Pode ser que essas mulheres não sejam exploradas, mas oprimidas pelas suas patroas.Albarracín fala sobre isso da seguinte maneira:


[...] se uma mulher faz a comida diária em outra família que não a sua, em troca de um salário, não estamos na presença de um trabalho doméstico, mas de um trabalho assalariado. [...] De fato, a relação familiar à que ela está submetida não é uma relação de exploração, já que dela não se extrai mais-valia, mas de opressão. (ALBARRACÍN, 1999, p. 47-48).


3 – FINALIZAÇÃO DAS IDÉIAS

Emprego Doméstico - Uma Relação Ideológica
Ideologicamente, o emprego doméstico ainda é desqualificado e inferiorizado, já que não exigi estudo ou preparação para o seu desempenho e ficando na maioria das vezes a cargo das mulheres. Essas acarretam para si uma carga de culpa, por conta do distanciamento provocado pelo emprego doméstico, dos seus filhos e das responsabilidades domésticas do seu próprio lar, enquanto que, para os homens, esse tipo de dilema nunca ou dificilmente é posto.
Outro ponto importante é que persiste nessa equação o fato do envolvimento, dentro da casa da patroa, dois tipos de relação: a profissional e a familiar. Visto que, geralmente quando se quer mostrar a “proximidade” entre patrões e empregadas domésticas, estas últimas são referidas como se fossem “da família” ou chamadas de “secretarias do lar”.
O grande problema está no fato de ideologicamente mascarar a posição submissa que as empregadas ocupam, geralmente inferior, ocultando propositadamente as desigualdades neste tipo de relação e sua recorrência na sociedade capitalista e patriarcal brasileira.
Outro problema é, sabe-se que o trabalho doméstico remunerado ainda possui altas taxas de informalidade e rotatividade apesar da Lei 150. Essa que regulamenta o trabalho das domésticas ainda é muito recente, o que ocasiona falta de conhecimento de direitos.
Diante do retrato esboçado pela nossa pesquisa, é possível perceber que ainda há grandes desafios principalmente ideológicos, mas também, pessoais, sociais e econômicos para as mulheres quanto à articulação entre o trabalho doméstico e o remunerado, apesar do avanço no mercado de trabalho, universo inicialmente dominado pelo gênero masculino.
Presumimos que, essas mulheres adquiriram um empoderamento mais consciente nas suas relações familiares, conjugais e laborais. Entretanto, ainda esbarram na impossibilidade de compartilhar as responsabilidades do trabalho reprodutivo e do cuidado da família.

4 – REFERENCIAS BIBLIOGRAFIAS

ALBARRACÍN, Jésus. O trabalho doméstico e a lei do valor. In FARIA, Nalu; NOBRE, Miriam (orgs.). O Trabalho das mulheres: tendências contraditórias. São Paulo: SOF Sempreviva Organização Feminista, 1999.

DEJOURS, Cristophe. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. 5 ª ed. Ampliada – São Paulo: Cortez – Oboré, 1992.

DIEESE. Trabalhadores Domésticos. 2011.

KALOUSTIAN, Silvio Manoug. Família Brasileira: a base de tudo. São Paulo Cortez, Brasília, DF: UNICEF.1992.

MARX, Karl. O Capital – Crítica a Economia Política. 3ª edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.

SENNETT, Richard. A Corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 1999.

Apresentação de Trabalhos Monográficos de Conclusão de Curso / UFF. – 10ª Ed. Ver. E atualizada por Estela dos Santos Abreu e José Carlos Abreu Teixeira. – Niterói. EDUFF, 2012.

http://www.domesticalegal.com.br. Acesso em 08/07/2017.

ANEXO 1 
ROTEIRO DA ENTREVISTA REALIZADA COM AS DOMÈSTICAS

·         Nome:Idade:Estado Civil:Número de filhos:Local de nascimento:
·         Profissão e grau de escolaridade:Já teve outras experiências profissionais?
·         Gosta de trabalhar?Gosta de trabalhar como doméstica?
·         Porque você trabalha?Considera o trabalho importante para a mulher?
·         Como divide o trabalho de casa com a família, com o trabalho fora de casa?
·         Os demais membros da família ajudam no trabalho doméstico privado?
·         Se pudesse escolher, que tipo de trabalho gostaria de fazer?
·         Fale um pouco de você, de sua vida em família.
O que faz nos fins de semana?
O que faz nos períodos em que não trabalha fora de casa?
·         Vai a alguma reunião de Igreja, Associações, etc...?
·         O que você espera para seus filhos?
·         Você tem carteira assinada?
Possui algum benefício social?
·         Tem boa saúde?
·         O que representa trabalhar para você?


domingo, 29 de julho de 2018


MEU COTIDIANO EM FOTOS – O QUE VEMOS?



Cláudio Alves de Melo 


 ABERTURA

A cada segundo, inúmeras, diferentes e inusitadas fotografias surgem no universo imagético, em especial o virtual, visto que o crescimento das redes sociais acontece de forma intrigante. E assim, nos ligamos, ou seria nos conectamos a todo o tipo de reprodução do cotidiano dos sujeitos, às vezes de foro íntimo, por meio das lentes de todo tipo – de celulares, de câmeras fotográficas e até de canetas espiãs, entre outras tantas. Com isso, presumimos que a fotografia, do lambe-lambe às lentes dos smartphones, vive um momento histórico, pois não só os fotógrafos profissionais tiram fotos, mais qualquer pessoa. Com um celular na mão podemos tirar fotos incríveis.

Atrevemos-nos a dizer que a fotografia é a forma de comunicação e linguagem mais universal que temos hoje na pós-modernidade. No entanto, nós seres humanos não estamos entendendo perfeitamente quais as vantagens do acesso fácil a essa fantástica forma de ver, ler e entender o mundo.

Portanto, é necessário desenvolvermos uma educação imagética no sentido de ver, ler e entender uma sociedade que se comunica por meio dos símbolos e significados nas fotografias. Pois, “A imagem produzida pelo homem, segundo diferentes concepções e estilos, diz ao homem, em cada época, quem o homem é” (MARTINS, 2008, p.20). Pode ser que no futuro o sujeito que não souber ler e entender as imagens não lerá nem tão pouco entenderá a realidade. Mas para ler e entender o que as imagens falam, não é suficiente apenas olhar uma imagem por um minuto, se exige mais do que isso, é necessário dedicar tempo e atenção para nessa ordem - parar, refletir, descrever para compreender e interpretar, a fim de apreendê-la como objeto de conhecimento.


DISCUSSÕES TEÓRICAS

Então como podemos ler uma foto, uma imagem? Para isso, devemos procurar entender o contexto da fotografia analisando as correlações entre as formas e conteúdos existentes nela. Para reconhecermos e interpretarmos os símbolos – o alfabeto - que se juntam codificando as palavras, e, por conseguinte as expressões são necessários conhecimentos prévios e, com as fotos e imagens não é diferente. Se um texto pode possuir diversas interpretações, as fotos e as imagens também podem provocar múltiplas leituras.

O fotografo, seja ele profissional ou não sempre tem algo a dizer quando fotografa algo ou alguém, assim como o escritor que escreve uma história, como o poeta que escreve um poema, como o compositor que escreve uma música.

As mensagens imagéticas possuem significados pré-concebidos pela cultura e para entendê-los necessitamos de códigos imagéticos de leitura que os dê sentidos. Ao olharmos a foto de uma árvore, se não soubermos o que é uma árvore, não vamos entender ou vamos entender de forma incipiente a mensagem que ela passa. Mas, ao olharmos temos que ir além do simplesmente ver. Isto é, ao olharmos as fotos, interpretamo-las, e assim podemos manter ou mudar a percepção daquilo que vemos conforme o tempo, a importância e a conjuntura que damos a tal ação. Assim como em uma história, poema, música, ou seja, a um texto de forma geral, quando interpretamos uma imagem estamos dando significados a ela. É dar sentidos possíveis para aquilo que a fotografia está dizendo. 

Cabe lembrar, que nosso pré-julgamento pode nos influenciar em nossa interpretação. A obviedade de nossos olhos fundamentados nos rótulos e ideologias pode confundir-nos e o resultado de nossa interpretação ser equivocado. Vamos realizar um exercício: Ao olharmos uma fotografia de uma casa “bonita”. O que vemos? Uma casa “bonita”. Mais o que é uma casa “bonita”? Vamos entender o que é uma casa “bonita” a partir do padrão de boniteza que aprendemos culturalmente o que condicionará e interferirá em nossa interpretação. Sendo assim, tudo que se opõe ao nosso padrão visual pré-determinado será reconhecido como feio, ou seja, a fotografia de uma casa no sertão do nordeste será vista como feia. Visto que, nossa interpretação se molda pela classificação rápida e superficial, e assim abstraímos tudo aquilo que não pode ser visto instantaneamente.

Para nós lermos as fotografias é preciso enxergar além do que é mostrado, ou seja, como, onde, para quê e para quem é mostrado. Claro que essa tarefa não é simples, e vai depender de conhecimento da visão de mundo que compartilhamos. Um bom exemplo é quando nós realizamos a leitura de imagens produzidas por outras pessoas e a leitura que elas fazem da nossa produção, visto que as fotografias possuem concepção e contexto, ou seja, para ler as fotografias, é necessário ir além, explorando seu entorno, seus detalhes, suas cores, seus atores, etc, para conseguir uma interpretação, ou seja, para conseguir juntar seus fragmentos.

A fotografia junta fragmentos visuais. Sem a imagem a cotidianidade seria impossível. Mesmo quando não temos uma fotografia para cada situação, o imaginário cria a imagem em nós e para nós. De certo modo, em boa parte, hoje, pensamos fotograficamente. (MARTINS, 2008, p.43).

Em fim, a leitura de fotografias exige sensibilidade, reflexão, ação e avaliação, não necessariamente nesta ordem. Dessa forma, o processo de interpretação acontece a partir da exploração da fotografia e não do simples ato de reconhecimento. Partindo da correlação entre os sentidos, os conhecimentos e a percepção.

Vejamos a interpretação dada a algumas fotos tiradas em nosso cotidiano. Elas foram numeradas e nomeadas a partir da interpretação feita, as quais quando vista por outros sujeitos podem receber interpretações diferentes.


FOTO 01 – O TAL RELÓGIO


A fotografia mostra um relógio de parede marcando 4 horas da madrugada. Ela está simbolizando o início do nosso cotidiano. O despertador toca: “Alarme desligado”. Levanto tonto de sono, estico os braços para acabar com a sensação de sofrimento de ser despertado pelo mesmo som todos os dias. Saio do quarto, chego à sala e olho o tal relógio na parede e percebo que lá se foram os cinco primeiros minutos do meu dia. Tomo banho, me visto. De novo olho o relógio e lá se foram mais 15 minutos. Enquanto pego dois pães franceses para passar manteiga, tiro o leite da geladeira, penso: “Que horas são?” e novamente me pego olhando o tal relógio, e lá se foram mais 5 minutos. “Mas o café, ah, o café…”. Quando me dou conta, seu aroma irresistível me convida, me convida a novamente olhar o tal relógio. E lá se vão os minutos passando um a um... Nossa! Rapidamente tomo o café, termino de vestir, calço os sapatos, pego a mochila, conto o dinheiro da passagem do ônibus, tudo olhando o tal relógio. E ao abrir a porta para sair, não resisto e olho pela última vez o tal relógio. É hora de ir... E todo dia é tudo sempre igual: o tal relógio me convida sutilmente ao mundo, à sociedade, a pós-modernidade.


FOTO 02 – O PORTAL DO INFERNO


Essa foto representa parte do meu cotidiano, minha chegada ou saída ao Centro de Niterói. Interpreto essa foto da seguinte maneira. Vejo a entrada do terminal João Goular como a entrada e saída de pessoas infelizes, sobrecarregadas, insatisfeitas, perdidas, etc, etc. O que seria o Portal do Inferno? De acordo com o site “Aventuras na História” é uma dessas entradas para o submundo das trevas, para lá levavam animais saudáveis para sacrificarem aos demônios. Enquanto os animais morriam rapidamente, os sacerdotes que os levavam voltavam à superfície para continuar seu jogo sujo de persuasão. É exatamente como vejo esse grande portal de entrada e saída de pessoas como eu que são levadas para o matadouro, as pessoas que por ali passam parecem perdidas, sem rumo, tristes, oprimidas, em busca de algo que nem elas sabem exatamente o quê. Silenciosamente vamos ou somos levados como animais irracionais para sermos sacrificados ao deus “trabalho” ou ao deus “consumo”.


FOTO 03 – CAOS ORGANIZADO 


Fotografia da principal Avenida do Centro de Niterói – Avenida Amaral Peixoto. Meu cotidiano vai acontecendo em meio a esse caos organizado. A aparente organização serve para ocultar o caos que nela existe. Pessoas se conversam diante de um jogo sutil. Organizadamente cada sujeito procura obter vantagem. Então eu me pergunto: quem vai ganhar o jogo? Nem todas as pessoas ganharão, “[...] porque o número de recompensas disponíveis é limitado. Nesse caso, competimos uns com outros [...]” (BAUMAN e MAY, 2010, p. 34). Tudo muito organizado: os prédios um do lado do outro, os carros param no sinal fechado para os pedestres atravessarem calmamente, tudo no seu lugar. Será? Onde está o rapaz engraxate que se prepara para dar mais um golpe do “limpa tênis? Onde está o morador de rua invisível com os pés cheios de feridas? Onde está o camelo que vende mercadorias que dizem ser roubadas? Onde estão as crianças abandonadas? Onde estão as Marias e os Josés? Onde estão muitos outros? Nós os vemos nas sombras dos prédios, escondidos, invisíveis, esquecidos. Estão assim, para que não desorganizem o caos. Como vivemos em uma sociedade capitalista, que põe o lucro acima de tudo, a suspeita da organização se encarreira na direção da manutenção da fachada. Goffman (2011) observa que a procura incansável pela manutenção da fachada e sua relação com aprovação social fazem do homem seu próprio carcereiro. Na realidade, nada organizado está, e todos que estão ali e acolá estão a espreita de uma vítima para poder ganhar o jogo. Costumamos dizer que somos vítimas e algozes uns dos outros.


FOTO 04 – A CARGA ACABOU


Essa foto simboliza meu cansaço. É a foto de um quadro que nós mesmos fizemos com canetas vazias. Podemos ver que além de estarem sem carga, elas estão dispostas uma sobre as outras desordenadamente. Olhamos para ele e vimos que podia representar o fim do nosso cotidiano. Ao final do dia estamos completamente vazios de energia, de humor, de alegria... As atividades que realizamos ao longo do dia deveriam nos satisfazer, mas intrigantemente não nos satisfazem, temos sempre a sensação de estar faltando algo. Cansados e insatisfeitos voltamos para casa como as canetas, vazias e com a vida abstratamente (des)organizada.


FOTO 06 – RECOLHIMENTO


Essa foto retrata a finalização por completo do nosso cotidiano. É quando nos recolhemos. Subjetivamente associamos a casa de maribondo a nossa casa. Quando chego à minha casa é como se eu estivesse entrando numa caverna. Estranhamente eu gosto de estar nessa caverna, me sinto bem só. E para falar a verdade, gostaria muito de entrar concretamente numa caverna e lá ficar. Essa casa de maribondo me passa paz e, é exatamente o que sinto ao chegar à minha casa, no entanto, nossa liberdade continua, mesmo em casa, condicionada. 


ENCERRAMENTO 

Descrever as atividades que realizamos no decorrer do nosso cotidiano e analisá-las superficialmente não é difícil, mas, como nós experimentamos a simples ação de fazer o café da manhã todos os dias pode se tornar uma experiência singular, quando vista por um ângulo diferente. Nosso cotidiano se tornou tão corrido que acabamos por experimentar a vida de maneira automática e superficial. As atividades que realizamos durante o decorrer do nosso cotidiano nos passa uma normalidade até daquilo que não precisamos experimentar. Quando fotografamos nossas experiências cotidianas, ao vê-las atentamente descobrimos o que foi escondido individual e coletivamente pelo subconsciente.

Ao ver as fotografias do nosso cotidiano descobrimos também que não somos autênticos, não vivemos uma vida autentica, nossas vidas são iguais a vida dos outros, nossas realizações são iguais demais. Pode ser que o discurso da diferença e da diversidade esteja provocando um efeito inesperado, contrário – estamos nos tornando iguais demais.

A nosso ver estamos inseridos em um contexto de modo de vida que dita como devemos conduzir nosso cotidiano, ou seja, não somos verdadeiramente livres para conduzimos nossa vida. No entanto, todo dia provavelmente - eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas - continuaremos automaticamente e superficialmente realizando tudo sempre de igual modo. Como a bela música diz: “Todos os dias é um vai e vem. A vida se repete na estação. Tem gente que chega para ficar Tem gente que vai...”. E aí, como foi o preparo do seu café da manhã hoje?


BIBLIOGRAFIA

BAUMAN, Zygmunt e MAY, Tim. Alguém com os outros. In: Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2010. P. 33-50.

GOFFMAN, Erving. Sobre a preservação da fachada. Uma análise dos elementos rituais de interação social. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

MARTINS, José de Souza. A fotografia e a vida cotidiana: ocultações e revelações. In: Sociologia da fotografia da imagem. São Paulo: Contexto, 2008, 33-62.

Música: Encontros e Despedidas. Compositores: Milton Nascimento e Fernando Brant.

Reportagem: Cientistas Explicam Mistério do Portal do Inferno. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/misterio-portal-inferno.phtml. Acesso em 17/06/2018.

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