DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO NA ESCOLA – NOTAS
Cláudio Alves de Melo
Brenda Alves Perdigão
de Melo
1 - ABERTURA
Traçando pensamentos sobre a educação inclusiva buscamos,
neste texto, compreendermos alguns fatores que revelam a reprodução da
violência histórica em que vive o sujeito estudante com dificuldades de
aprendizagem decorrentes de deficiências físicas, sensoriais e cognitivas.
Costa (2001) afirma que, a sociedade contemporânea
vivencia um momento histórico cultural contrário as atitudes discriminatórias
dos segmentos sociais mais frágeis, buscando inclusão e acessibilidade para todos.
No entanto, essa busca de igualdade e equidade para todos é contraditória por
ocorrer no interior de uma sociedade capitalista como a nossa e que se mantém
constituída em classes e assim se desenvolve, fator que provoca a inclusão
social de poucos em detrimento de muitos outros sujeitos.
2 - DISCUSSÃO TEÓRICA
Todos os sujeitos possuem, em comum, a
humanidade, porém, essa não é reconhecida na sociedade de classes. Nas
sociedades capitalistas como a nossa, a diferença não é vista como essência da
humanidade ameaçada, sendo representada por estereótipos – formados pela
cultura e incorporados pelo indivíduo como afirma Crochík (1997) – na verdade (re)velam
o preconceito ao generalizar a condição de pessoa com deficiência, que passa a ser visto
como o cego, o cadeirante, o aleijado. Consequentemente gera uma visão
destorcida do sujeito com deficiência, uma visão que enxerga esse
sujeito apenas a partir de sua deficiência estereotipando-os. Costa (2001) afirma que
não há lugar para os “fracos” em uma sociedade capitalista classista, uma vez
que essa é:
Uma
sociedade baseada na força, física e/ou espiritual, na competência e na
dominação que se volta contra aqueles despojados do requerido pala sociedade
burguesa, sociedade determinada pela lógica do mercado, configurado como uma
instância incompatível com a participação dos considerados menos competentes. (COSTA,
2001, p.98).
Partindo do pensamento de Crochík (1997), o qual diz
que nesse tipo de sociedade existe subjetivamente uma espécie de “subjugação
imaginária” que possui como objetivo tornar um sujeito melhor que, ou superior
aos outros.
Nessa lógica somos obrigados de forma subjetiva a
competir com os outros pelo emprego, pela vaga na escola, etc. E ainda temos
que nos mostrar fortes, o tempo todo, ninguém pode perceber nossas fraquezas.
Assim, acabamos legitimando uma cultura que enaltece o forte, e daí, “sem
querer querendo” excluímos os outros sutilmente, colocando-os numa espécie de
gueto social.
As convenções sociais impostas pela sociedade produz
certo tipo de comportamento que faz com que o sujeito que aceita e reproduz
essas convenções sociais não reconheça e nem aceitem facilmente os sujeitos com deficiência, seja ela cognitiva, física ou intelectual.
Portanto, é de extrema importância que entendamos
como a perpetuação da dominação se naturaliza como situação opressora, na qual “os
estereótipos servem como justificativa para a dominação”, como afirma Crochík
(1997, p.23).
Diante disso, pensamos ser igualmente importante
analisarmos a função da escola dentro dessa lógica. Afinal de contas, a escola
tem contribuído concretamente para a inclusão de todos na dinâmica escolar ou
implicitamente tem fortalecido a ideologia de exclusão?
Pensamos que, para que o processo de inclusão na
escola proposto pela sociedade tenha êxito, é de extrema importância que
aqueles que a constituem – pais, professores, alunos, gestão, ect - realizem
reflexão crítica em relação a si mesmo, aos outros, aos estudantes com alguma deficiência, à escola, enfim, a realidade escolar e seu cotidiano,
compreendendo que seu fazer profissional deve atender à demanda da diversidade
na totalidade da realidade, portanto, todos devem estar preparados para receber estudantes com deficiência em suas salas de aula e outras dependências
da escola. Pode ser que assim consigamos enfraquecer ou acabar com a ideologia
da superioridade, que pressupõe que uns sujeitos são mais fortes que outros,
que uns sujeitos são melhores que outros, e que são os sujeitos que devem se
adaptar à escola e seu território, e não o contrário.
Cabe lembrarmos a Declaração de Salamanca, documento
que tem por metas a defesa e o compromisso da “Educação para Todos”, uma
educação comum, a todas as crianças, jovens e adultos com ou sem necessidades educativas
especiais.
3 - ENCERRAMENTO
Pensamos numa escola que integra, ao invés de
segregar, que não produza barreiras arquitetônicas ou ideológicas, e que
provoque, a todos os membros da comunidade escolar, dando-lhes possibilidades e
oportunidades de sentir, pensar e agir acerca da importância da construção de
uma educação acolhedora permanentemente. Todos os membros da comunidade escolar,
coletivamente, poderão contribuir para criar caminhos para a transformação no
processo educativo do aluno, que contemple o desenvolvimento de sua
sensibilidade para lidar com as diferenças.
Concluímos este breve texto reflexivo com a
pretensão de provocar reflexões críticas acerca de uma escola democrática,
gratuita, verdadeiramente acolhedora, que aceita a todos os sujeitos estudantes,
atentando à diversidade desses, combatendo a formação e a manifestação de
qualquer tipo de preconceito, compreendendo a existência da diferença dos
sujeitos estudantes como parte da essência da humanidade e assim realizando uma educação
que conscientiza e inclui.
4 - BIBLIOGRAFIA
CORDE,
1994. Declaração de Salamanca e linha de
ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília/DF: MEC/SEESP, 1994.
COSTA,
Valdelúcia Alves da. A Formação na Perspectiva
da Teoria Crítica da Sociedade: as experiências dos trabalhadores deficientes
visuais do SERPRO. Tese de Doutorado, São Paulo: PUC, 2001.
CROCHJK,
José L. Preconceito: indivíduo e cultura.
São Paulo: Robe Editorial, 1997.
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